quarta-feira, 17 de outubro de 2007

INDIE 2007! - o lado cool e o nada cool do cinema


Uma relação incestuosa verídica, entre mãe e filho com um fim trágico. A invenção de um carro movido a sangue humano. O quebra-cabeça de duas crianças japonesas ao lidar com a morte dos pais. Tudo isso, ao som do bom e velho... Punk.

Seria o parágrafo acima mais uma poesia fruto do inconsciente? Nada disso. São apenas poucas palavras para exprimir a idéia de alguns dos filmes exibidos no INDIE 2007 - Mostra de cinema mundial, realizado pela Zeta Filmes, que aconteceu em Belo Horizonte entre os dias 5 e 11 de outubro no Usina Unibanco de Cinema e no Cine Humberto Mauro.

Filmes chocantes? Sim, mas o INDIE é isso e muito mais. Há filmes chocantes, mas também fortes, densos, inteligentes, instigantes, clássicos, bizarros, politicamente toscos e na pior das hipóteses, “blasé demais” ou “viajado demais” ou “artístico demais”. Temáticas a parte, o INDIE é na verdade um evento obrigatório para quem gosta de apreciar a sétima arte produzida em várias partes do mundo.

A Mostra, que realizou sua sétima edição neste mês de outubro, exibiu 129 filmes de 23 países. E o melhor, de graça. E se você mora em BH e neste exato momento se pergunta “onde eu estava que não prestigiei isso?”. Tente relaxar, sabendo que a divulgação do festival não é lá essas coisas, o que pode justificar você não ter sabido disso. Mas quem foi, sabe o quanto vale a pena. Mesmo ficando na fila um bom tempo antes da distribuição de ingressos ou até mesmo ter assistido alguns dos filmes sentado no chão. O que nos leva a crer, que seria interessante os organizadores pensarem em aumentar os locais em que se realiza a Mostra. Mas mesmo assim, o INDIE funciona, e bem. Então, o que um festival tão cool, no sentido mais amplo possível e não apenas por exibir o novo de David Lynch antes de entrar em cartaz, poderia ter um lado nada cool? A resposta pode ser você que está lendo esse texto. Porque o maior problema: é o público.

Mas calma, não é nada específico quanto ao público que freqüenta o INDIE. Mas de certa forma é triste perceber no público que freqüenta esse tipo de “festival” ter o mesmo comportamento, ao menos em sua grande maioria, do público que freqüenta salas de cinema de Shopping Centers. Talvez, seja por boa parte do público ser adolescente e essa fase é difícil mesmo, eu mesmo já fui convidado para me retirar de salas de cinema quando tinha meus 15, 16 anos. Ou talvez, e pior, seja falta de educação mesmo.

A má conduta do público começa antes mesmo de entrar na sala de exibição do filme, porque ao invés das filas crescerem em comprimento, crescem em largura. Se por um lado a organização deixa a desejar na fiscalização/controle, por outro, falta ao público consciência e respeito. Isso pode ser frustrante quando você está em uma dessas filas e tem que sentar no chão ou até mesmo não ver o filme porque os coleguinhas do cara da frente "pegaram o seu lugar".

Já na sala de exibição é preciso mais do que um parágrafo para falar dos problemas que lá acontecem. Primeiro tem o tal do celular. Quando o indivíduo não resolve atender a ligação no meio do filme para dizer justamente "estou no meio do filme, não posso falar, depois eu te ligo" - como assim?! Como alguém pode ser tão estúpido a esse ponto?! – há os que colocam o aparelho no silencioso e aí, durante o filme o celular vibra e a pessoa olha para o visor para saber quem é que está ligando e faz em silêncio e com gestos a verbalização da frase entre aspas acima.

Outro acontecimento na sala, paralelo ao filme que está sendo exibido, é quando sua visão de repente é tomada de sobressalto por uma luz, que não é a oriunda da sala de projeção e sim do visor de celular. Porque não sei quem divulgou a informação de que só mexer no celular durante o filme não atrapalha.

E não para por aí: Há o cara de traz que resolve fazer comentários (óbvios) durante o filme. A moça do lado que cochicha com sua colega sobre o filme exibido durante toda a exibição e por ser um sussurro, ela acha que não está atrapalhando ninguém. Ainda tem o mané da frente, que ri de tudo e faz piada de tudo.

E há situações realmente preocupantes, relacionadas diretamente ao grau de abstração do espectador. Percebi, que algumas pessoas devem supor que quando não há diálogo no filme a conversa está liberada. Afinal, são só imagens. E imagem não diz nada e o que diz é dito pela boca do personagem ou narrador, certo? POR ALMODÓVAR! Por favor, antes de ir ao INDIE ou a QUALQUER SALA DE CINEMA tenha a postura e comprometimento adequados. Mas se você acha que não conseguirá deixar de fazer nenhuma das atitudes descritas acima, por favor, alugue um DVD e assista em casa e encha o saco só da sua mulher ou de seu marido, isso, se você sendo chato (a) desse jeito ainda for capaz de ter um(a). Porque essas são atitudes que DEFINITIVAMENTE atrapalham a concentração de quem gosta de apreciar um bom filme.

Assim, ou melhor, não sendo assim, o INDIE será ainda melhor, por mais incrível que isso possa parecer.

PS: Os filmes que citei no início desse texto são respectivamente: Savage Grace de Tom Kalin, que pra sua felicidade deve entrar em cartaz e você poderá assistir uma das melhores atuações de Julianne Moore. Carro A Sangue (Blood Car) de Alex Orr, que infelizmente quem viu, viu. Quem não viu, pode lamentar. Estrada 225 (Route 225) de Yoshihiro Nakamura, que provavelmente não entrará em cartaz apesar de ser um filme de 2006 e Punk's Not Dead um documentário de Susan Dynner que também dificilmente entrará em cartaz.. Pois é, o INDIE tem disso, mas não lamente tanto, alguns filmes exibidos já entraram em cartaz em algumas capitais do Brasil e podem ser que sejam exibidos em outras.

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