terça-feira, 27 de novembro de 2007

OS NOVOS DISCOS DE BRITNEY E PJ HARVEY - frio como o fogo e quente como o gelo.




Os novos discos de BRTINEY SPEARS e PJ HARVEY, respectivamente Blackout e White Chalk, tiveram certa dificuldade de chegar aos mercados brasileiros. E isso foi, definitivamente, um dos motivos que me fez reunir a resenha dos dois discos em um só texto. O novo da PJ, lançado em setembro, só agora começa a ser achado mais facilmente nas lojas brasileiras. E o novo de Britney, lançado em 30 de outubro, também teve certa dificuldade de ser achado nas lojas na semana de seu lançamento, tanto que, também, só agora ele é encontrado mais facilmente nas prateleiras brasileiras. Essa logística envolvendo o acesso aos trabalhos de artistas tão diferentes e que habitam universos distintos da música é apenas um dos pontos possíveis de fazer um paralelo entre ambos e que justifica colocá-los em um mesmo texto. Mas vamos há outros:


Os novos discos de Britney e PJ são, neste paralelo, algo como a dama e o vagabundo ou a bela e a fera, mas de forma alguma pejorativa, para nenhuma delas. Garanto. Simplesmente porque cada uma, a seu modo, conseguiu ser muito bem sucedida nestes novos trabalhos.


White Chalk remete a uma casa abandonada e assombrada por almas que talvez não tenham deixado esse mundo pela dor que o amor, de diferentes formas, lhes fizeram sofrer. Blackout é como um exorcismo dance-eletrônico de uma vida possuída por excessos de uma popstar. Assustador? Ouça respectivamente "The piano" e "Freakshow" para entender estas tenebroas analogias iniciais. Mas relaxe, analogias a parte, Britney e PJ Harvey ousam e impressionam, positivamente, nestes trabalhos:


PJ Harvey ousa ao trocar as guitarras, seu principal instrumento durante esses mais de quinze anos de carreira, pelo piano. Instrumento que não tinha nenhuma intimidade ou habilidade, tanto que ela aprendeu a tocá-lo exclusivamente para este disco. A ousadia de Britney, foi conseguir transformar sua vida pessoal, sobretudo os problemas existentes nela e noticiados incessantemente pela mídia, em letras de músicas irônicas, debochadas, bem-humoradas e sobretudo dance. Miss Spears impressiona justamente por não ter feito a letra dessas músicas, nem ter ajudado na produção delas - com uma e outra exceção - e mesmo assim, conseguir soar pessoal como se os produtores Danja e a dupla Bloody & Avant não tivessem nada haver com isso ou apenas "desempenharam bem" o papel de produtores. Sendo que o primeiro é queridinho de ninguém mais ninguém menos que Timbaland e o segundo é responsável por nada mais nada menos que a música "Toxic". Já PJ Harvey, impressiona por conseguir com um trabalho tão diferente de sua discografia ainda soar como PJ Harvey, não gerando frustração ou estranhamento em quem acompanha seu trabalho. Simplesmente, admirável.


A capa de White Chlak busca inspiração numa obra de James Abbott McNeill Whistler, chamada The White Girl. O que ilustra bem o disco: um quadro para ser apreciado. Já a capa de Blackout é uma montagem fraca, quase tosca, mas o encarte surpreende, com direito a fotos ousadas em um confessionário com uma jovem popstar-mãe-porra-loca no colo de um padre. O que também não deixa de ilustrar bem o disco: surpreendente. Sobretudo para uma artista que parecia, apesar de ter apenas 25 anos, chegado ao fim de sua carreira.


Curiosamente, as duas tem algo em comum nesses discos: ambos são trabalhos musicais minuciosos. PJ com as notas extraídas do piano e de sua potência vocal. E Britney, leia-se produtores, com os detalhes eletrônicos no vocal e efeitos nas músicas. E felizmente, para os respectivos ouvintes destes trabalhos, é difícil uma música só destacar. Em White Chalk, a faixa título, minha preferida, é inebriante, "Broken Harp" soa como um clamor épico obtido em um mosteiro medieval ecoando pelo tempo e "Silence" é timidamente feliz e angustiante. Em Blackout, "Gimme more" é hipnoticamente sexy, "Piece Of Me" é sarcasticamente dance, "Break The Ice", apesar de lembrar "I'm Slave 4 U", é sem dúvida empolgante e claro, erotizada. Mas é óbvio, como já disse, são artistas diferentes, mas com distintos efeitos positivos:


PJ emociona, Britney contagia. White Chalk é para ouvir sozinho, Blackout com a turma. PJ é lírica e Britney é física. White Chalk é onírico e Blackout é mecânico. White Chalk é como um sussurro aos ouvidos e Blackout é sinônimo de pista de dança cheia. Entretanto, PJ é madrugada a dentro e Britney é noite a fora.


Com White Chalk, PJ Harvey conseguiu fazer um dos melhores discos de 2007 e um dos melhores discos de sua carreira, que merece estar ao lado de To Bring You My Love de 1995 e Stories From the City Stories From the Sea, de 2000. Com Blackout, Britney foi até "mais além" conseguindo fazer o melhor disco de sua carreira, o que não quer dizer que seja uma obra-prima. Mas conseguiu, sem dúvida, revigorar o cenário pop e soar atual assim como Madonna fez em 2005, com Confessions On A Dance Floor e Nelly furtado fez em 2006 com Loose. Mas uma boa frase que poderia definir bem estes discos é uma música que está em Blackout, por justamente permitir múltiplas interpretações no paradoxo de sua proposta: cold as fire baby, hot as ice.


Ouça “Silence”:



Ouça “Piece of me”:



Um comentário:

Ivo Costa disse...

Opa, Bom Mickey,

vc sabe que eu odeio Britney, então vou me limitar a falar só da PJ Harvey aqu - Adorei o texto no que se refere a PJ (e a Britney também, confesso) - mas a PJ é a PJ, assim, ela conseguiu construir um disto melancolicamente belo, tão profundo em sua angústia, que parece até uma carta de despedida (rezo pra que não seja), e sim Broken Harp é o pedido de perdão mais sincero e triste que já ouvi na minha vida, The Devil nos remete aos nossos demonios interiores, Dear Darkness dá vontade de cortar os pulsos, e por aí vai. Quanto a Britney, bom, vou comentar, tudo o que vc escreveu não sei se vc criticou ou elogiou, quando vc disse que nenhuma das musicas foram compostos por ela, quando disse que sua musica era mecanica, quando disse que sua capa era tosca,... . Bom, vou levar para o lado critica, prefiro assim. Boas criticas Mickey.

Quero ver você falar do Radiohead agora, ficou escutando só PJ e nem deu importância para In Rainbows, o melhor disco de 2007 ao lado do PJ