segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

BACTÉRIA GAY? - Minha análise sobre a notícia



Foi divulgado neste mês a identificação nos EUA de uma nova bactéria mortal que foi associada diretamente aos gays. Dias depois, o Departamento de Controle de Doenças (CDC) nos EUA, em comunicado afirmou que ao contrário do que foi divulgado a contaminação da bactéria não atinge apenas os gays. E daí?

“E daí”, caro leitor, que o texto primeiramente divulgado é moralista, preconceituoso e trata um importante assunto da ordem de saúde pública como uma questão meramente moral e sexual. No texto, que você pode ver no link abaixo, que tem o sugestivo título de “Bactéria resistente dissemina-se entre gays, diz estudo nos EUA”, é lamentável, sobretudo jornalisticamente. Veja o texto clicando abaixo, e depois, veja o meu comentário mais detalhado sobre o mesmo:


Nasci da década de 80 a mesma época em que a AIDS começou a ser identificada. E como sabem, a doença inicialmente foi relacionada aos gays. Mas hoje sabemos que a contaminação pelo vírus HIV está relacionada a um comportamento de risco e não um grupo de risco. Assim, inicialmente no texto assinado por Amanda Beck, me remeteu a esta época do início da AIDS: relaciona uma doença perigosa aos gays, exclusivamente.

Quando vi o título da notícia me chamou a atenção, porque imaginei se tratar de uma matéria sobre algo como se o sistema imunológico dos gays fosse mais fraco e suscetível a contaminação do tal vírus. Mas ao ler a matéria não era clara a relação bactéria X com o fator G (traduzindo: fator gay).

No texto, é aborda a questão do sexo anal, que é um tipo de relação sexual, como um dos fatores de contaminação da bactéria. Mas o texto, tendenciosamente e sutilmente, relaciona a prática do sexo anal como EXCLUSIVA dos gays. Assim, associar a doença aos gays é preconceito. Fruto de uma educação onde o sexo ainda é tabu. O parágrafo abaixo mostra isso:

"Quando isso atingir a população em geral, estaremos diante de uma doença realmente impossível de ser controlada", afirmou Binh Diep, pesquisador da Universidade da Califórnia em San Francisco, que comandou o estudo. "É por isso que estamos tentando divulgar a mensagem da prevenção."

O que ele quer dizer com “isso”? Qual seria a forma de alerta e prevenção? Talvez, excluindo/exterminando os gays? E Ainda é ressaltado pelo cientista que a doença é disseminada por meio de atividade sexual. Não faz sentido dizer que só os gays transam, certo? E o texto continua:

"Em 2005, o MRSA matou cerca de 19 mil norte-americanos, a maior parte deles em hospitais"

19 mil gays? Se sim, estamos diante de um extermínio viral gls! Cuidado! E partir deste ponto o texto toma um caráter científico, deixando de lado qualquer possível caráter moralista - como deveria ser todo o texto - mostrando assim, que a tal bactéria não fica/não é vinculada a um grupo específico.

E para fechar com “grande sabedoria”, provando que não é algo veiculado exclusivamente aos gays o texto diz:

"A melhor forma de evitar a contaminação é lavar as mãos e a área genital com água e sabonete, disse Diep".

Por favor! Lamentável, patético. Ainda bem que se pronunciaram contra esse absurdo. Mas eu como jornalista, lamento duplamente, pela notícia divulgada.


Um comentário:

Flavimar Dïniz disse...

"Virus que mata, neguinho. Virus do amor..."

[Caio Fernando Abreu - Dama da Noite]


Estou no fim do livro de cartas do Caio e tem uma linda, logo no começo do boom da Aids, que fala dessa coisa de as pessoas perderem o único bem que elas ainda tinham, que era a sexualidade.